09 setembro 2015


Relâmpago da Folha Seca
                                                                             Pepe Donato

A folha cai
E estala um estrondo, um ai
Um rombo que vara
Os cantos calados, os cactos imóveis
E um tanto assustados (e arrepiados)

A folha cai
E muda o desenho dos rastros
De bichos mirados por bichos
Irados de fome e certeza

Um bicho tem que ir à mesa
Um bicho tem quer ser a presa

A folha cai
É o relâmpago da folha seca
É o espanto da minha incerteza
É o meu medo de não ter a mesa

O aviso da folha rasgando o pó
A pedra ecoando uma nota sol
O verde do algodão de seda
Insiste em ser só

Se as folhas não me falam nada a mais
Um dano que nem sabe o juá
E a flor que já nasce velha, voa
E cor que já amarela o céu

E o vento arde sem nem ter o dom de arder
O sol presente, tão presente,
atrai as folhas no vapor de tantos nãos


12 agosto 2015

Fotografia de  Questavia

Vindo - Pepe Donato 

Volto
Onde estive nem meu rastro insistiu no passo
Volto
Há que diga que eu nunca fui de longe o mesmo
Volto
De repente a madrugada acorda e vem comigo
Volto
Sete séculos pra um poeta apaixonado é pouco
Volto
Minha vida pede a toda hora a vinda deste louco
Volto
A felicidade em minha volta nem cabe em meu corpo
Volto
Porque eu nunca, sem poesia, chegaria neste ponto.

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*(eu nunca deveria ter deixado de postar no meu blog)
                                                                                        


20 abril 2012

Intenso INTENSO intenso InTeNsO

INTENSO
Pepe Donato

Eu sou assim
O calor da estrela
O feitio da areia
Ar do mar
A lua giga
Eu vou assim
O cavalo negro
Pó da pedra e vento
Raso mar
Sol no relento
Eu vivo assim
Horas para o dia
Anos de alegria
Tempo vai
E vem o tempo
Eu sou assim
Lastro largo e denso
Dores, eu dispenso.
Super-Eu
Eu me aguento
E, sempre assim
A colmeia cheia
O valor da ceia
Barro e mãos
O rio das veias
E, sendo assim,
O sabor da brisa
Fome da matilha
Chumbo e chão
Eu sou intenso
Até o fim
O pendor da água
O olhar da águia
Fio de luz
Espécie rara
Até o fim
O peixe da chuva
O vinho na mesa
Pão do Pai
A vida imensa
Será que sim?
Homem são e reto
Verbos sempre certos
Voz do céu
Som do deserto
Super-Eu
Intenso

*Dedico este poema a pessoas intensas como Edy Gonçalves.

16 dezembro 2011

sobre a saudade


Saudade é um ponto final pedindo reticências – já disse Lucia Linhares.
Eu?
Eu vivo em saudades.
Assim mesmo. Como se fosse um lugar e não um verbo.
Não sofro de saudades.
Não morro de saudades.
A saudade é um braço meu.
Um terceiro braço.
Não tenho como me livrar dela, assim como não desejo me livrar dela.
A saudade me abraça e me afaga; me levanta e me balança; me acompanha e me desperta.
A saudade vive, numa boa, em mim e eu...
Vivo em saudade.

*hoje faz 5 anos que a saudade vive em mim: tranquila, mas intensa; densa, mas serena.

30 setembro 2011

saber de tudo



SABER DE TUDO      Pepe Donato
É bom saber de tudo um pouco
Melhor saber um tanto sobre nós
Pois quando o dia fica turvo e louco
Quem vai saber?

É bom saber que você pensa assim tão grande, tão além
Do aquém, onde eu me encontro desde mim, sem ninguém
é bom saber que tudo está mais leve pra você
E que amanhã, melhor será, o tanto que vier

Que venha o sol brilhar e a sorte
Pende ao sul de mim e ao norte
Um vento forte e a sua luz vai nos dizer então
Que o mundo está melhor e os corações sabem porquê
Que todo mundo sabe tudo e tudo flui tão clean

O homem está mais livre e toda cruz é um souvenir
Pra quê a honra existe se é bem mais simples mentir
E, às vezes, pra lembrar uma palavra de amor
Recorre a um livro alheio sem memória e sem autor

Mas, tudo bem, você acredita que tá tudo bem
Melhor pensar assim do que deixar o astral cair
A ponto de você ficar sem rumo
A ponto de esquecer do seu futuro
Melhor assim

letra de música dedicada a Carlos Maltz, de história bonita, de presente aceso e futuro em chamas.

28 setembro 2011

não era dança, não era nada


...e o silêncio se torna uma agradável espuma de éter
Porque eles já não falavam de amor nem do mal
E já não era dança, chuva ou luar
Nem era brincadeira, forró, carnaval...
Desagradar o silêncio, nem raios de luz
Fazem sem o cuidado de impor seu trovão
Que tem o meu respeito por saber gritar
Eu prefiro dançar sem um som, sem ninguém
Do que ouvir o berrar do nada sobre o vazio

*(*estes versos não merecem uma imagem(*

26 setembro 2011

sua alegria

Infelizmente não sei de quem é esta foto. Que o autor me perdoe.

O que é sua alegria
Quando você grita e
Tenta calar quem te ouviu
Quando você chora
E tenta sangrar quem sorriu
Quando você mente
E tenta enganar sua fé
Quando você foge
E tenta trazer quem feriu
Quando você morre
E tenta viver sua paz
Quando você perde
E deixa perder um pouco mais
Quando você ama
E deixa outro amor escapar
Quando você acorda
E vê tantas horas pra trás
Quando você anda
E vê que não dá mais
O que é a sua alegria?